Nem toda pergunta merece resposta. Nem toda mensagem exige retorno. Nem todo conflito precisa de mediação imediata. A urgência contemporânea por explicações, resoluções e posicionamentos cria um sujeito hiperdisponível e, ao mesmo tempo, profundamente ausente de si. A compulsão por dizer, justificar, esclarecer, postar e responder mata algo essencial: o intervalo em que o inconsciente fala.
Silenciar não é calar. É escutar. E escutar, aqui, não significa interpretar no plano lógico. Significa sustentar a opacidade de algo que ainda não se formulou. Freud já dizia que há pensamentos que só se constroem no atraso. No gesto de não falar. No tempo em que a palavra hesita. O sujeito que fala demais, rápido demais, esclarece demais, geralmente tenta evitar o encontro com o que nele é enigma.
É por isso que há dores que se agravam quando explicadas cedo demais. Há afetos que se perdem no excesso de comunicação. Relações que se esvaziam por nunca terem vivido o silêncio compartilhado. A tentativa constante de significar tudo transforma o desejo em relatório. E nada sufoca mais do que ter que dar conta de si o tempo todo.
Na prática clínica, observa-se que os momentos de maior virada subjetiva não são os da fala fluente — são os do tropeço, da pausa, da lágrima que não se justifica, da frase que não termina. A linguagem revela, sim. Mas o silêncio sustenta o que ainda não pode ser dito. E isso é o mais ético que se pode oferecer ao desejo: não traí-lo com uma explicação apressada.
Como reaprender o valor simbólico do silêncio:
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