Vivemos em um tempo que idolatra a alegria performática e silencia a tristeza como se fosse uma falha moral. A lógica da conexão instantânea ensinou a deletar, bloquear, cancelar. Em poucos cliques, apaga-se a dor e, junto dela, a possibilidade de elaborar o que se perdeu. Essa pressa emocional destrói um dos processos mais fundamentais da vida psíquica: o luto, que não é só resposta à morte, mas a toda experiência em que nos vemos obrigados a abandonar partes de nós mesmos, pessoas, ilusões, etapas da vida.
Se antes o luto era vivido como um trabalho comunitário, em que se partilhavam lembranças e se costurava sentido para as ausências, hoje ele é apressado ou invisível. Quando uma relação termina, quando somos demitidos, quando uma fase se encerra, espera-se que reajamos com eficiência emocional: “siga em frente”, “não se vitimize”, “recomece”. A tristeza genuína, que nos obriga a confrontar a perda, tornou-se quase obscena. E assim, incapazes de lidar com a dor, reciclamos ressentimentos, acumulamos fantasmas e perdemos a chance de reconfigurar nossas experiências em narrativas que nos humanizam.
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