A dor de amar: entre o enigma do outro e o abismo de si
O amor nos quebra — e talvez seja essa sua função. Como se dissesse: você não é uno, você não é inteiro, você precisa do outro para descobrir o que em você ainda pulsa.
A dor de amar não se confunde com o sofrimento romântico descrito por canções ou roteiros de cinema. É uma dor de outra ordem: psíquica, corporal, pulsional. Amar é, inevitavelmente, expor-se a uma ferida estrutural — não porque o amor falha, mas porque ele se funda sobre a falta. É o que Freud nos ensinou ao situar o amor entre o narcisismo e a alteridade, entre o desejo de ser amado e o risco de se perder.
J.-D. Nasio, em sua obra A dor de amar, nos conduz por essa travessia com a precisão de quem escuta o que o sujeito tenta calar. A dor amorosa é, para Nasio, um afeto paradoxal: um sofrimento que o sujeito não quer perder. Ela dói, mas ao mesmo tempo testemunha a existência de um vínculo. O abandono fere menos pelo silêncio do outro do que pelaquilo que desperta em nós: a lembrança de um desamparo anterior, a reativação de um trauma primitivo.
Lacan nos diria que amar é dar o que não se tem a alguém que não o quer. Essa fórmula, tão enigmática quanto verdadeira, escancara a estrutura impossível do amor. Desejamos o outro como quem tenta costurar uma ausência. E o que sofremos, na dor de amar, é que esse outro nunca pode ocupar o lugar exato que projetamos nele. Toda forma de amor implica idealização — e toda idealização carrega, como sombra, a decepção.
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