A intimidade como ameaça: por que se afastar pode parecer mais seguro que se aproximar
Nem todo afastamento é desinteresse. Há sujeitos que somem justamente quando algo começa a fazer sentido. Que congelam diante de uma relação promissora. Que recuam quando o outro finalmente os vê. Não porque não querem estar ali — mas porque não sabem o que fazer com o que aquilo desperta. A intimidade, em certos casos, não é um conforto. É um gatilho.
Esse fenômeno não nasce do vazio, mas do excesso. Um excesso de expectativa, de medo, de memória afetiva mal digerida. O sujeito teme que, ao se permitir sentir, acabe se perdendo. Ou sendo ferido. Ou tendo que abrir mão de um controle cuidadosamente construído. E então prefere se retirar. De forma sutil, elegante, justificada. Mas é fuga. Uma fuga de si mesmo sob o pretexto de maturidade.
Na psicanálise, isso pode ser lido como uma defesa contra o desejo. Lacan já dizia: o desejo, quando real, nos desestabiliza. Porque revela o que escapa ao Eu, o que desorganiza, o que não se controla. E a intimidade tem esse poder: ela toca o sujeito onde ele não tem resposta. Expõe a parte mais frágil, mais improvisada, mais contraditória. E nem todo mundo suporta ser visto nesse lugar.
O paradoxo é que todos dizem querer conexão. Mas a conexão verdadeira exige uma perda: do verniz, da performance, da narrativa editada. Envolve lidar com o outro não como uma projeção, mas como enigma. Com falhas, zonas opacas, demandas. A intimidade é um território onde o amor não basta. Onde a convivência exige ética. E isso assusta. Porque significa sair da fantasia narcísica de ser compreendido sem esforço.
Como diferenciar medo da intimidade de desinteresse real:
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