Chorão: a tentativa brutal de ser unanimidade em um país que nunca soube acolher seus filhos feridos
Chorão falhou no que talvez tenha sido seu desejo mais profundo: ser salvo pela própria arte, ser suficientemente amado para curar as feridas antigas.
Poucos artistas brasileiros encarnaram, de forma tão visceral e reconhecível, a luta entre o desejo de aceitação e a recusa em se curvar quanto Chorão. Não é à toa que sua figura ainda hoje mobiliza um tipo de afeto que beira a unanimidade — esse raro fenômeno em um país cronicamente dividido, não apenas por desigualdades materiais, mas por fraturas emocionais profundas. Chorão era, antes de ser músico, um corpo falante: falava com o gestual, com o excesso, com a vulnerabilidade exposta em formato de raiva e ternura alternadas, sem as camadas de autoproteção que a cultura exige de seus ídolos polidos. Ele não vendia performance de autenticidade: era autêntico em sua desorganização, em sua necessidade desesperada de ser ouvido, amado, respeitado e, acima de tudo, não traído.
Continue a ler com uma experiência gratuita de 7 dias
Subscreva a Torresmo para continuar a ler este post e obtenha 7 dias de acesso gratuito ao arquivo completo de posts.