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Como confiar em alguém quando sua história te ensinou o contrário

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mai 28, 2025
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Como confiar em alguém quando sua história te ensinou o contrário


I. O que a desconfiança protege: entre o trauma e a ética do afeto
Confiar é um gesto relacional, mas nasce em solo psíquico. Quem não confia no outro, antes de tudo, não confia na própria capacidade de suportar o que o outro possa causar. A confiança é, portanto, um atravessamento ético: ela exige que o sujeito se disponha ao vínculo sabendo que poderá ser ferido — e ainda assim se ofereça.

Mas essa oferta não é ingênua. Ela depende da existência de um chão interno que sustente frustração sem colapso. E esse chão nem sempre está lá. Em muitos casos, o que chamamos de “dificuldade em confiar” é a expressão afetiva de uma história onde o amor chegou com violência, o cuidado veio com exigência e a presença foi intermitente ou condicional.

Winnicott, ao falar da constituição do self, propõe que a confiança primária — aquela que permite ao bebê existir sem se defender o tempo todo — depende da experiência de uma presença suficientemente boa. Quando essa presença falha de maneira crônica ou imprevisível, o sujeito aprende a viver em modo defensivo. Ele cresce com o afeto ativado, mas a entrega interditada.

Lacan complica esse cenário ao mostrar que o sujeito é, por estrutura, dividido — o que quer e o que diz querer nunca coincidem completamente. A confiança, nesse sentido, nunca é plena, nem total, nem garantida. Sempre há um resto. Um ponto de opacidade no desejo do outro que escapa à captura. E é justamente aí que ela se torna insuportável: confiar exige sustentar a angústia de não saber o que o outro fará com aquilo que recebeu de nós.

A desconfiança, então, não é um “defeito de personalidade”. É o avesso de uma entrega que, um dia, foi ferida demais para poder continuar acontecendo. Em vez de se culpar por não confiar, o sujeito precisa escutar: o que em mim está tentando se proteger? de quem? desde quando?


II. Confiar é aceitar que o outro é real — e, por isso, falho
O que torna a confiança tão difícil é que ela obriga o sujeito a sair da idealização. Confiar não é acreditar que o outro nunca errará, mas aceitar que ele pode errar — e mesmo assim permanecer. Essa aceitação é quase insuportável para quem foi condicionado a se manter vigilante o tempo inteiro.

Muitas relações falham não pela ausência de afeto, mas pela recusa em habitar a realidade do outro sem controle. Confundir presença com onisciência, reciprocidade com adivinhação, cuidado com fusão, é pedir que o outro funcione como antídoto para suas feridas, e não como parceiro simbólico.

A confiança verdadeira não exige garantias, mas contorno. Ela só pode surgir onde o sujeito reconhece os próprios limites emocionais, aceita os limites do outro, e decide, ainda assim, construir algo — mesmo sabendo que pode desmoronar.

Nietzsche dizia que “amar é admirar com o coração; confiar é entregar-se com os olhos abertos”. A confiança não é o oposto da lucidez — é o seu produto mais sofisticado. Confiar não é não ver o risco. É ver e mesmo assim continuar.


III. Como reconstruir a confiança sem negar o medo (guia em 4 passos)

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