O desejo de ser visto como alguém que não precisa de ajuda: a armadura sutil da autossuficiência imaginária
Há um tipo de orgulho que não se manifesta em bravatas, mas em silêncios. É a recusa em pedir socorro, a aversão a demonstrar cansaço, o impulso de suportar tudo sozinho. Muitos se orgulham dessa casca: a imagem de quem se basta, de quem não se permite fraquejar, de quem até sangra, mas em segredo. O desejo de ser visto como alguém que não precisa de ajuda torna-se, assim, uma armadura delicada, mais do que proteger, aprisiona.
Por trás desse desejo esconde-se um pacto ambíguo: a crença de que só será digno de respeito quem não incomodar, quem não depender, quem não demonstrar carência. Em termos freudianos, essa postura pode ser entendida como uma defesa narcísica contra a humilhação da vulnerabilidade. Para Melanie Klein, revela o medo profundo de ser invadido ou rejeitado se expuser suas fraquezas. E para Donald Winnicott, é a caricatura do “falso self”: um eu construído para funcionar, agradar ou impressionar, mas que esconde a necessidade legítima de cuidado.
A armadura da autossuficiência é reforçada pelas narrativas sociais que veneram o “guerreiro solitário” e desqualificam a fragilidade como preguiça ou fracasso. O resultado é uma epidemia silenciosa: pessoas que parecem fortes, mas implodem em ansiedade, exaustão e solidão, porque confiam mais na aparência de invulnerabilidade do que em relações que sustentem seus vazios.
Essa busca em ser admirado pela força absoluta cobra caro. Afasta conexões genuínas, esvazia vínculos, transforma o outro em ameaça à imagem de controle. Afinal, quem quer ser visto como invencível não suporta que alguém enxergue suas rachaduras. É uma tragédia silenciosa: quanto mais alguém se mostra inabalável, mais se isola e mais a máscara precisa se tornar rígida.
Caminhos para romper a armadura:
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