Envelhecer, mais do que acumular rugas ou perder vigor, expõe a violência simbólica de uma cultura que adora a juventude como padrão absoluto de valor. Como aponta Byung-Chul Han em A Sociedade do Cansaço, vivemos sob o império da performance e do culto à eficiência, onde o corpo jovem simboliza produtividade e potência. Quando o corpo começa a falhar na tarefa de performar vitalidade, muitos descobrem que não temem apenas a morte, mas o esquecimento — essa morte em vida que transforma o idoso em figura invisível, como descreve Simone de Beauvoir em A Velhice, ao evidenciar a desumanização social que acompanha o avançar da idade.
A recusa em aceitar o envelhecimento se manifesta em cirurgias, cremes milagrosos, dietas extremas e discursos de autoajuda que vendem a ilusão de uma juventude eterna. A indústria antienvelhecimento movimenta bilhões porque o medo de envelhecer é, na prática, o medo de não ser mais visto, desejado, útil. É o pânico de ser excluído de um mercado simbólico que associa valor à estética jovem, como analisou Pierre Bourdieu em A Distinção, mostrando como gostos e aparências se tornam capitais que reforçam desigualdades.
Por trás do culto à juventude, há também um medo profundo de lidar com a finitude. O envelhecimento nos confronta com a perda do que se imaginava imutável: a força, a agilidade, a promessa de tempo infinito. Freud, em Além do Princípio do Prazer, lembra que a angústia da morte atravessa o inconsciente humano como um limite que não pode ser ignorado — e a velhice nos faz sentir essa proximidade de forma quase tangível.
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