O outro que não precisamos salvar: abandono como respeito
Vivemos sob o império de uma ética narcísica do cuidado: salvar o outro tornou-se um modo disfarçado de salvar a si mesmo. Ajudar, acolher, resgatar — tudo isso parece, à primeira vista, expressão do mais nobre altruísmo. Mas frequentemente encobre uma fantasia de onipotência, uma recusa a aceitar a alteridade como irredutível. O impulso de salvar o outro pode não ser amor: pode ser violência travestida de virtude.
A psicanálise nos alerta para essa armadilha. Quando o sujeito se coloca como salvador, ele desautoriza o desejo do outro. Ele se antecipa, interpreta, substitui a palavra do outro por sua própria leitura. O “salvo” torna-se objeto do delírio de completude do “salvador”. E nesse gesto, o respeito à alteridade é rompido. Porque respeitar verdadeiramente o outro é suportar que ele escolha caminhos que julgamos errados. É tolerar sua destruição, sua repetição, sua recusa em ser ajudado.
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