Quando a idealização destrói a intimidade: o fardo de ser perfeito para o outro
Ao contrário do que a cultura romântica costuma vender, ser idealizado não é um privilégio: é uma prisão silenciosa. Quando alguém nos admira ao ponto de não enxergar nossas imperfeições, o que se constrói não é intimidade, mas uma encenação. A cada gesto, surge o medo de decepcionar, de cair do pedestal cuidadosamente erguido pelas expectativas alheias. E, aos poucos, a relação vai se tornando menos um espaço de encontro entre dois sujeitos reais e mais um palco onde se encena a perfeição.
Donald Winnicott, psicanalista britânico, escreveu que o verdadeiro self só floresce em um ambiente suficientemente seguro, onde não se é obrigado a corresponder a imagens idealizadas. Quando se vive sob o olhar de quem exige a manutenção de uma máscara, não há espaço para espontaneidade. O falso self se torna o modo dominante de existir: uma performance constante para sustentar o amor condicionado à perfeição.
Esse fenômeno é reforçado pelo que Erich Fromm chamava de “amor como posse”: uma relação em que o outro é visto não como sujeito, mas como extensão das próprias fantasias. O idealizado deixa de ser alguém que pode errar e passa a ser aquilo que o outro precisa para se sentir especial. E quem idealiza, por sua vez, se alimenta de uma ilusão que funciona como defesa narcísica contra suas próprias inseguranças: se o outro é perfeito, talvez eu também não seja tão falho.
Em algum momento, porém, o castelo de cartas desmorona: nenhuma pessoa consegue sustentar para sempre a posição de mito. Quando a realidade emerge — um esquecimento, um deslize, um limite — surge a decepção desproporcional e o ciclo de cobranças, ressentimento ou abandono. É o ponto em que muitos relacionamentos, que pareciam intensos, implodem com violência.
Como quebrar a idealização e construir intimidade real
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